"Vou-me à imensidão com minhas asas azuis buscar pelos versos ocultos"

 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Xaile Negro

 


Puxo o negro do meu xaile

Contra o frio da solidão,

 A vida é um triste baile

Dançado no coração.

A lua, pálida e fria,

Espreita na minha janela,

 Vê-me à espera de um dia

Que se apagou como a vela.

Dizem que o tempo é doutor,

Que cura tudo o que dói,

Mas tempo sem o teu amor

É tempo que me destrói.

Olho as águas do Tejo

A correr p’ra não voltar,

Levaram o último beijo

Que não me chegaste a dar.

Ai, Fado, meu triste fado,

Que me trazes a sofrer,

Quem vive preso ao passado

Morre aos poucos sem morrer.

 Chora, guitarra, comigo,

Nesta rua de amargura,

Se o amor é um castigo,

A saudade é a tortura.

 Já gastei as pedras todas

 Da calçada, de esperar.

O destino tece as rodas

Que nos fazem tropeçar.

 Não culpo a minha má sorte,

Nem a tua ingratidão,

Amar-te foi o meu norte,

Perder-te, a minha perdição.

 Quando a voz me falecer

E o meu canto se calar,

Só peço, ao entardecer,

Que alguém te vá contar:

Que fui rainha e fui serva

Deste amor que me consumiu,

Como a flor que se conserva

Numa carta que ninguém viu.

 Ai, Fado, meu triste fado,

Que me trazes a sofrer,

Quem vive preso ao passado

 Morre aos poucos sem morrer.

Chora, guitarra, comigo,

Nesta rua de amargura,

Se o amor é um castigo,

A saudade é a tortura.



AnnaLuciaGadelha







 

 

 

domingo, 30 de novembro de 2025

Os Quatro Elementos

 


A Terra se ergue, silêncio e raiz,

No ventre escuro onde a semente é paz.

É o solo firme, a força que não finda,

O corpo de Deus na forma que é tão linda.

 

 Em cada grão, em cada ser que brota,

Sinto a paciência da verdade remota,

Que nos sustenta, berço e sepultura,

 A promessa eterna da Vida pura.

 

A Água flui, um espelho cristalino

,No sussurro leve de um segredo divino.

É o rio que corre e nunca tem regresso,

A lágrima, o orvalho, a fluidez do excesso

 

Que lava a alma, purifica o ser.

No imenso Mar, o tempo a dissolver,

 Sinto a vastidão, a graça em movimento

, O sopro d'Aquele que é puro sentimento.

 

O Ar invisível, respiração do mundo,

O hálito sagrado, mistério profundo.

É o vento que sopra em cada pensamento,

O espaço aberto, leve, o firmamento.

 

Em cada inspiração, a comunhão se faz,

 A ponte sutil que nos traz mais e mais

Perto do Alto, do nome que não se diz,

A liberdade que o Espírito bendiz.

 

O Fogo que queima, a chama que se eleva,

A paixão da vida que a existência tece.

É Sol que nutre, a luz que não se esgota,

 A fornalha interna, a mais intensa nota

 

Que transforma o medo em calor e coragem.

No brilho da estrela, na ardente paisagem,

Sinto a energia, a força criadora,

O olhar divino que em tudo nos mora.

 

Terra, Água, Ar e Fogo, os quatro sagrados,

Em nós ressoam, em nossos próprios estados.

Somos a argila que a chuva amoleceu,

O sopro de vida que o Céu nos concedeu.

 

Ao contemplar a flor, o mar, a montanha,

A alma desperta, o véu se desentranha,

 Pois no espetáculo da natureza em festa,

O Divino nos fala, e a vida é a resposta.



AnnaLuciaGadelha








 

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Chama Ardente

 


Não precisa acender a luz, a noite é cúmplice e gentil.

Só o brilho incerto da cidade que entra pela fresta sutil.

 E o ar já está denso, uma promessa no silêncio.

Eu sinto o teu olhar me despir, em câmera lenta, e eu dou licença.


Não tenho pressa, não... A pressa é para quem não sabe o que quer.

Eu sou feita de fogo baixo,

 Não sou tempestade, sou maré que sobe e inunda o cais.

Me move o toque, me acende a calma.


Vem, acende essa chama ardente que guardo na alma.

E me mostra de novo aquele teu jeito

Que me faz pedir baixinho, "Quero mais..."

 

 

Minha pele é um mapa que só tu tens a chave,

 Cada curva, um segredo que a tua boca desbrava.

Teu nome é um sussurro que adorna o meu gemido,

Um veludo rouco que eu guardei só para o teu ouvido.

 

O tempo parou na beira da cama, só o desejo avança.

Neste quarto há só nós dois, e a nossa dança.

 

Eu sou feita de fogo baixo,

Não sou tempestade, sou maré que sobe e inunda o cais.

 Me move o toque, me acende a calma.

 Vem, acende essa chama ardente que guardo na alma

E me mostra de novo aquele teu jeito

Que me faz pedir baixinho, "Quero mais..."




AnnaLuciaGadelha